domingo, 26 de outubro de 2008

“uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.”

Gente estava Fazendo uma pesquisa quando dei com este Texto e não resisti resolvi copiar.

depois de uma semana de experiência como doutorando na gineco/obstetrícia, eu já me sinto com a autoridade pra declarar:

convenhamos. buceta é legal. vagina é uma merda.

moças, com todo o respeito. durante todo o post, eu vou usar as duas formas de linguagem por meros motivos demonstrativos. não se ofendam. o termo é pesado, as almas mais puritanas podem se sentir ultrajadas. as que chegarem no final do texto vão entender a diferenciação.

a peça anatômica em questão é uma delícia - literalmente, inclusive. mas, como quase tudo na vida, levada à sério, sabe ser um problema.

eu adoro ginecologia, eu adoro obstetrícia. mesmo.

eu também adoro buceta, claro.

então, por que usar essa frase ofensiva, seu pervertidinho?

porque a diferença é clara.

a buceta, como órgão de lazer, é muito legal. socialmente, a buceta é apresentada limpinha, depilada, cheirosa. as calcinhas são bonitinhas, a apresentação é seguida de todo um cerimonial social, as finalidades são muito menos nobres e mais prazeirosas.

então, o que é uma vagina?

vagina é uma paciente de 79 anos chegar no consultório com queixa de ‘cheiro à peixe no corrimento acinzentado’ que escorre pela vagina. vagina é exame especular, é papanicolau, é toque vaginal.

engraçado. antes da g/o, pra mim, toque vaginal era ‘colocar um dedinho’.

a própria ida ao ginecologista, pra mulher, já deve ser um inconveniente. além de desconfortável, representa expor a intimidade feminina da forma mais escancarada possível - numa posição de frango assado, com uma toalhinha - tecnicamente, a ‘tenda’ - que impede a moça em questão de enxergar o que tá sendo feito lá embaixo.

antes do exame, se eu fosse mulher, eu já estaria apavorado. deitada a paciente, montada a tenda, só se escuta na sala um abrir-e-fechar de gavetas, barulhos metálicos, plásticos sendo rasgados, tilintar de vidro. é um preparatório dos infernos. eu, ali embaixo, sei o que tá sendo feito, o porquê do que está sendo feito, e sei que eu vou fazer doer o mínimo possível. mas, admito, é meio hipócrita encostar um espéculo (aquelas duas chapas de metal que o ginecologista coloca na vagina pra abrir o canal vaginal) gelado e pedir ‘por favor, relaxe’.

eu adoro atender mulher. gosto muito de g/o, pra mim até hoje é uma das possíveis opções de carreira. adoro o modo como tratar com mulher, sei ser simpático, sei como preservar a confidencialidade, até sei como tocar nos assuntos mais íntimos das formas menos constrangedoras possíveis. tudo do modo mais imparcial possível, juro.

mas, amigos, em verdade, vos digo: não pensem mal de mim por esse texto. todo médico - (a) também, importante frisar -, sabe se comportar de modo profissional. não quer dizer que a pessoa seja profissional o tempo todo na vida. eu entendo perfeitamente que a paciente tá ali, tem uma queixa, e eu devo e quero fazer tudo ao meu alcance pra resolver os deconfortos e aflições da dita cuja.

mas chegar no refeitório ao meio dia, logo depois das consultas, e fazer o comentário ‘cara, que cheiro de xexeca que tá aqui. tu também tá sentindo ou sou só eu?’ pra um bando de colegas minhas - mulheres, diga-se de passagem - é cruel.

e o engraçado é que elas concordaram.

é, amigo. homem ou mulher, médico - ou estudante de medicina - também sente nojinho. encara, mas não é obrigado a amar aquilo. a paciente é uma coisa - e merece todo o respeito e dedicação. o cheiro, as secreções, as texturas.. bom, isso fica pro consultório.

eu tou aqui, escrevendo sobre isso, porque eu acho importante saber diferenciar. ver uma vagina profissionalmente, e saber distinguir de uma buceta socialmente.

e, mais - uma mulher não é uma vagina. se foi procurar o ginecologista, tem uma queixa, não é motivo de vergonha nenhum. homem chega aos 50 e tem que procurar urologista pra fazer toque retal, criança na pediatria faz xixi na cara da gente, recém-nascido nasce cheio de cocô, proctologista vive de examinar ânus alheio. atire a primeira pedra quem nunca teve frieira e teve vergonha de tirar o sapato na frente de alguém por causa do cheiro a queijo.

o corpo tá aí, foi feito pra dar problema, e a medicina não passa de um curso de mecânica pra seres humanos. da apendicite à gonorréia, a gente aprende que o paciente é uma pessoa, tem suas queixas, e merece seu devido respeito. a doença é uma coisa, o paciente é outra completamente diferente.

e é por isso que é importante saber distinguir. vagina é vagina; buceta é radicalmente diferente.

senão, a minha vida social ia pro saco.

Texto do Dr. Thiago

2 comentários:

Elis disse...

o texto é ótimo, realmente, buceta social e vagina profissional foi uma diferenciação excelente rsrsrs.

Petite Noire disse...

Ah... a boceta...e a vagina.
Rs
gargalhei e achei ótimo.