domingo, 14 de dezembro de 2008

Depoimento da Patricia

Ao ler nossos outros depoimentos nossa amiga também resolveu nos presentear com seu depoimento.


Eu não tenho a minha história de “saída de armário” para contar porque sou hétero. Mas, ultimamente venho refletindo muito sobre esse processo pelo qual todos os que não se definem como héteros são meio que obrigados a passar. No final de 2006 fui ao cinema com um amigo gay assistir ao filme “C.R.A.Z.Y. – Loucos de amor”, um belíssimo filme canadense, que havíamos ouvido falar bem, mas não sabíamos exatamente sobre o que era. Em determinado momento do filme, uma cena emocionante, a platéia toda começa a chorar... Corta para uma cena mais light e percebo que meu amigo continua chorando, desesperadamente... literalmente soluçando. E assim ele continua até o final do filme. O filme termina e ele ainda continua tentando se recuperar por alguns minutos. Saímos para lanchar e ele começa a falar. Diz que se identificou demais com o personagem principal, que viveu cenas idênticas. Que, assim como o personagem do filme, ele também rezava pedindo “por favor, Deus, não deixe que eu seja isso”, que antes de se assumir via o irmão fazendo piadas o tempo inteiro, que também sentia que o pai privilegiava o irmão em tudo. Depois começamos a refletir “Por que os anos se passam, mas as histórias de sofrimento para aceitação continuam existindo? Será que um dia a pessoa chegar a conclusão que gosta de pessoas do mesmo sexo seja um processo tão natural quanto é gostar do sexo oposto? Será que essa sociedade burra e retrógrada continuará por muito tempo tentando estabelecer padrões únicos de comportamento, tornando todos os outros inaceitáveis?”
Ainda não cheguei a nenhuma conclusão sobre essas perguntas, espero que em breve esse processo deixe de ser doloroso, mas não deixe de existir. Aliás, acho que héteros também deveriam passar por esse processo. Chegar a um momento de suas vidas em que possam refletir sobre quem são, do que gostam, em que valores acreditam verdadeiramente e quais foram “implantados” em seus subconscientes sem que nunca parassem para refletir... Enfim, um momento para se definirem enquanto seres humanos. Pois acredito que, muito mais do que decidir se sentem atração por homens ou por mulheres, esse processo de “saída do armário” de vocês, define quem são vocês enquanto pessoas. E por essa razão vocês são muito mais autênticos e muito mais propensos a refletir e questionar do que a maioria dos “reprodutores de comportamento” que existem por aí.

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