domingo, 7 de setembro de 2008

Flores raras e banalíssimas


Peço novamente que você abandone os rótulos, mais do que apenas "literatura lésbica", Flores raras e Banalíssimas (Carmen L. Oliveira, Editora Rocco) conta a história de duas mulheres únicas, duas estrelas de universos diferentes. A história começa com uma mulher que parte em busca de si mesma (lembram da resenha que fiz para o Dia do Coringa?). Essa mulher é uma americana, desterrada, frágil, etérea, atormentada, poeta. Elizabeth Bishop vem para o Brasil em busca de sentido. Encontra um furacão de personalidade forte e protetora: Lotta de Macedo Soares. De tão improvável o romance entre elas é óbvio: Lotta oferece para Bishop seu amor, sua proteção e seu espaço.

Durante 16 anos, numa casa em eterna construção, viveram felizes. Bishop escrevia seus melhores poemas e Lotta tentava terminar a construção daquela casa monumental. Mas Lotta queria mais, no seu afã de urbanista sem título acadêmico, ela se envolveu com a política carioca para urbanizar o Aterro do Flamengo. Estamos nos anos 60 e Lotta trava uma intensa luta política para realizar seus ideais estéticos, arrastando Bishop para o centro do Rio de Janeiro, capital da República que a poeta desdenha abertamente em seus escritos. O teor crítico da poesia de Bishop não agrada ao círculo de intelectuais brasileiros e ela é francamente hostilizada por aqui. Nesse processo intenso Lotta se sente viva e atuante enquanto Bishop reavalia seus passos....

Interessante avaliar que as conquistas e lutas de Lotta não ficaram escritas no que ela fez. Tanto a casa do loteamento Samambaia, quanto o parque do aterro não levam sua assinatura. Por outro lado, Bishop foi praticamente ignorada no país. Portanto, esse livro resgata não apenas uma história de amor, resgata uma memória "propositalmente" enterrada. Quantas Lottas não ficaram "esquecidas" não apenas por serem lésbicas, mas principalmente por serem mulheres num universo masculino e acadêmico?

P. S.: esse livro é considerado o precursor da chamada "Literatura Lésbica" no Brasil. Elis odeia francamente os rótulos porque eles são perigosos e podem restringir o público leitor. Neste seção vocês vão encontrar resenhas de todos os "tipos" de literatura, porque a boa leitura se faz com boa literatura, não importando o quão lésbica ela é. Isso vale para filmes também. Fica a dica!

Quer ver fotos da casa de Samambaia? http://www.vitruvius.com.br/ac/ac015/ac015_1.asp

2 comentários:

Elis disse...

Meninas, não sei o que ocorre mas não consigo dar espaçamento nesse texto. Se estiver ruim para ler me avisem, vou tentar corrigir o espaçamento.

San Okeoman disse...

Elis estas me suspreendendo a cada postagem, Nem sei o que falar. San sem palavras... O artigo é perfeito e ainda sua preocupação de colocar o Links do projeto . Fantástico.