quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Morenna

Bom nunca fui diferente quando criança, sempre brinquei com as meninas, de Barbie, essas paradas.
Quando eu tava no 2º grau fiquei um tempão com uma amiga, minha mãe descobriu e quase me matou, fiquei anos sem falar com a minha amiga, hoje nos falamos e nem rola mais nada.

Aí um belo dia, eu resolvi que ia me dedicar mais a uma comunidade aqui do Orkut que fala de uma série que eu amo. Resolvi também que ia ser responsável pelas legendas dessa série aqui no Brasil, coloquei anúncio e montei uma equipe de tradução, aí conheci uma menina fofa demais, mas muito marrenta, toda semana competíamos para ver quem traduzia mais linhas de diálogos.

Nos falávamos pouco, mas com o passar do tempo fomos nos falando td dia via MSN, webcam, telefone até que eu dia decidi pegar um avião lá do Rio e vir aqui para SP conhecer não só a menina que eu tava gostando, como outras meninas que curtem o mesmo seriado que eu. Foi impressionante mas foi amor à priemeira vista, frio na barriga, tremedeira, nervoso.

Fazia tempo que eu num me sentia assim, desde que tinha largado do meu noivo.
Sempre arrumava uma desculpa para voltar aqui na cidade dela e vinha praticamente todo mê, já tava impossível morar longe. Ela decidiu que eu ia ter que vir morar aqui com ela. Detalhe, eu com 28 anos e ela com 20. Ela me arrumou o emprego, e eu vim. Nesse meio tempo, meu irmão (maldito!) achou algumas fotos nossas e pssou a odiar a menina, não falava direito comigo e tanto fez que acabou contando para a minha mãe. Quando voltei para visitá-los no Rio foi uma confusão, uma briga enorme, minha mãe chorando, um verdadeiro stress...
Da última vez que passei alguns dias por lá, briguei feio com o meu irmão ele el falou tudo, gritou para todo mundo ouvir, me xingou de sapatão para baixo, disse que eu era a vergonha da família que eu tava deixando minha mãe doente. Minha tia e minha afilhadinha de 10 anos ouviram tudo e se não sabiam ainda, ficaram sabendo.

Bom, é isso, fui meio que tirada do armário, sou bi, amo muito a minh anamorada, larguei tudo o que eu tinha no Rio, me muei para o interiro de SP por causa dela, e faria tudo de novo se fosse preciso, em breve ela termina a faculdade e disse que vai morr comigo, conto os dias que nem criança para ela se formar logo (no final do an que vem) e ir morar comigo.

É mais ou menos isso...

Romilde

Fui uma criança muito sozinha, não tinha amigos. Eu tinha hábitos, preferências e comportamentos diferentes, mas como não tinha base comparativa, não sabia que era diferente. Eu me sentia atraída por meninas, e achava que isso fosse normal, que as outras meninas também sentissem isso. Desenvolvi minha personalidade pautada nas minhas próprias reflexões, vontades, ímpetos, livre da influência de outras crianças. Para mim, gostar de garotas era totalmente natural, por isso nunca tive problemas em me aceitar, e também por isso tampouco compreendo quando leio depoimentos onde as pessoas relatam seu grande sofrimento em se aceitar como homossexual. Acho que foi por volta dos dez, onze anos, quando começaram as paqueras e namoricos na sala de aula... Tive aquele insight e comecei a reparar que as meninas se interessavam pelos meninos, que os adultos casavam-se sempre com pessoas do sexo oposto, e que aquela amiga do meu pai que tinha cabelo curto e se vestia de homem já devia ter uns 40 anos e morava sozinha, nunca teve filhos nem namorados, apenas amigas. Um tempo depois comecei a namorar um rapaz, mas gostava da melhor amiga dele, e o namoro acabou assim que ela mudou-se para outra cidade. Aos quinze, apaixonei-me por uma garota, mas não nos envolvemos porque minha mãe enfrentava um divórcio muito duro e achei que não era o melhor momento. Aos dezesseis, conheci a moça com quem estou até hoje e retendo me casar. E por ela valeria a pena investir na relação e assumir para a minha mãe. Gente, eu achei que seria tranqüilo, pois ela é uma mulher jovem e sempre se mostrou moderna, cabeça aberta. Quando contei, ela entrou em depressão, ameaçou me matar, tentou suicídio, ameaçou processar minha namorada, cortou internet, telefone, dinheiro, liberdade, e até a minha privacidade. Dizia-me coisas horríveis, ameaçava muito, praguejava sempre, falava que eu jamais teria sucesso profissional, que as portas estariam sempre fechadas pra mim, que os homossexuais eram pessoas promíscuas, drogadas, vulgares, ignorantes e sozinhas.
Eu, como não tinha contato com nenhum gay e só conhecia aqueles escandalosos que a gente vê na rua, não achava aquilo um tremendo absurdo, apenas dizia a ela que eu não seria assim. Bem... Tudo mudou na minha vida quando eu passei no vestibular e saí de casa. Vim morar na cidade da minha namorada, o que só foi possível porque dois meses antes eu dissera à minha mãe que era mesmo fase, que tinha passado. Aqui pude perceber que os homossexuais que minha mãe desenhou um dia pra mim eram um estereótipo ridículo criado pelo preconceito da sociedade. Conheci pessoas maravilhosas, inteligentes, bem sucedidas, discretas, respeitadas, livres, e muito, muito felizes, e pude me compreender e me aceitar com tranqüilidade. Ainda assim, não sou totalmente assumida pros outros. Não nego nem minto, porém mantenho a discrição em locais públicos, só baixo a guarda em lugares gays. Em casa, após um ano inteiro de guerra e inferno, já faz um outro ano que eu e minha mãe estamos muito bem... Ela simplesmente apagou aquela parte da nossa vida, e hoje finge que nada aconteceu. Antes de eu sair de casa, ela disse que se soubesse de mim com uma garota, não seria mais minha mãe. Por isso eu não toco mais no assunto, ela finge que não sabe, e estamos bem, vivendo uma mentira. Sinto-me muito triste em pensar que terei sempre que escolher com quem vou passar o natal, a páscoa, as férias, o ano novo e tudo mais, pois minha mãe nunca aceitará a minha namorada. Entretanto, tenho que respeitar isso. Minha mãe não me proíbe de namorar meninas, eu não imponho a ela meu relacionamento. Mesmo com isso, sou feliz. Tenho uma carreira sólida na faculdade, uma vida social ótima, a amorosa, nem se fala, me aceito plenamente e sou completamente satisfeita comigo mesma.