Revolutionary Road escancara o real!
Eu consegui sentir a sensação claustrofóbica de se estar vivendo em uma prisão, em que é a sociedade e seus valores hipócritas que dita quem é você e o que você tem permissão para fazer. Nela, ninguém é feliz, mas todos fizeram o acordo de fingir uns para os outros (e o mais perigoso, para si mesmos), que são felizes, são realizados e que o objetivo de vida de todos deveria ser aquele ali mesmo. Ou seja, nas palavras do "louco": "Se você quer brincar de casinha, tem que ter um emprego. Se quer brincar de casinha grande e bonita, tem que ter um emprego que você odeia". E aí, ousar sonhar com algo diferente, algo que o faça sentir vivo, sentir que a vida é mais que aquela monotonia de dias iguais significa ser julgado de louco pelos que o cercam. No fundo, todos queriam escapar daquele lugar também, mas ficaram torcendo para que não desse certo para eles. Pois, caso contrário, significaria que quem está ali, está por covardia. Há sim uma saída.
Me identifiquei demais com o filme porque vivi uma situação parecida. A sensação de se dizer “estou me mudando para Paris” e ver a reação das pessoas de uma posição, de certa forma, arrogante e superior. Vocês estão presos ao sistema, mas nós não... nós queremos mais da vida, queremos experiências verdadeiras, nós não ligamos para as convenções sociais... E depois ter que encarar a realidade por trás desse sonho, encarar o dia após dia. Notar que tomar a decisão requer muita coragem sim, mas é uma decisão que se renova a cada dia. No fim das contas, vale mais o que você fez entre a hora que você se levantou da cama e a hora que você foi dormir e como isso está te encaminhando para o que você planejou. O que vale são as horas (o que lembra aquele outro filme maravilhoso também).
E aí depois do filme, fica a pergunta martelando "O que você está fazendo com as suas horas?" Eu acho que estou desperdiçando. É o motivo do filme ter me tocado. Será que não estou sendo levada pela correnteza que a sociedade cria e nos joga a todos para seguir os mesmos caminhos? "Será que não sou especial?" (como a personagem da Kate se questiona no final). Será que o fato de eu perceber, eu ter consciência disso, só fará de mim uma frustrada ainda maior? É isso que nos levam a acreditar. É muito fácil cair nessa armadilha de pensar "Não me resta alternativa, senão me adaptar. Quem não se adapta se torna louco".
Um filme que causa esse tipo de reflexão é brilhante. Ponto para Sam Mendes mais uma vez que nos presenteou com um filme ainda mais ousado que "Beleza Americana". E ponto para os jovens atores também. Sempre gostei da atuação do Leonardo DiCaprio, mas acho a Kate Winslet ainda mais talentosa, está merecendo um Oscar há anos. Mas, o Oscar é também um representante da sociedade (e seus valores hipócritas...).
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Foi apenas um sonho - Revolutionary Road
Postado por Paty 3 comentários
Marcadores: Filmes que fazem refletir
Apresentação
Alguns filmes nos fazem refletir sobre nossas próprias vidas. Às vezes basta uma simples frase em um diálogo para nos transportarmos para aquela situação, aquela vida, aquela escolha. E quando recebemos a passagem de volta, percebemos que algo mudou após daquela viagem de duas horas. Em alguns casos essa reação foi intencional. Os realizadores do filme pensaram e repensaram cada imagem, cada diálogo, cada detalhe. Tudo para que o espectador pudesse se aproximar daquele universo e se identificar com a personagem. Em outros casos não. Um filme que só se preocupava em atrair o público para distraí-lo acaba tendo uma reação inesperada.
Tomei a liberdade de abrir esse tópico para que a equipe de criação deste blog possa postar reflexões sobre filmes. Qualquer filme... sem preconceitos. Não precisa ser um filme politicamente engajado, defensor de uma causa, não-comercial, ganhador de prêmios, Cult... Basta apenas que o filme tenha despertado em você algum tipo de reflexão que vale a pena compartilhar conosco.
Estou aqui por convite da San, que, após ler a reflexão que escrevi sobre o filme "Foi apenas um sonho" (Revolutionary Road), achou que seria interessante que eu a publicasse aqui. Após algumas semanas pensando em como escrever essa introdução e nas mudanças que deveria fazer no comentário antes de publicá-lo, aqui estou às 4 da manhã, após noite de Oscar, escrevendo esse primeiro post e decidida a postar a reflexão de Revolutionary Road sem alterações. Vou me reservar o direito de poder falar sobre o mesmo filme mais de uma vez, pois tenho muito mais a falar sobre ele futuramente...
Gostaria que esse espaço pudesse ser assim mesmo. Bem livre. Já escrevi uma coluna de cinema para um site há alguns anos e o fato de ser de periodicidade semanal me deixava louca. Gostaria de voltar a escrever aqui apenas quando me sentisse inspirada. Já tive várias tentativas de blog antes e raramente continuava por muito tempo. Por isso gostei do convite. Aqui sei que a equipe grande fará com que ele continue sempre caminhando independente da pessoa enrolada que lhes escreve agora.
Para finalizar, devo de dizer que serão reflexões sobre filmes e não indicações. Portanto, haverão "spoilers". O ideal é ver o filme antes de ler a reflexão. Até mesmo para poder comentar...
Abraço a todas e todos
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