quarta-feira, 2 de julho de 2008

Aline

Desde a minha infância eu sabia que era diferente. Não sabia exatamente o que era, mas igual eu não era. Por que? Porque eu não me identificava com nada que eu supostamente deveria. Brincar com minhas amiguinhas gerava sempre conflito: elas queriam montar a casa da Barbie e eu queria correr por ai. Pois e, um saco. Já na pré-adolescência me dei conta do quanto essa “diferença” poderia me chatear. Minhas amigas enlouquecendo com as bandas pop como FIVE e Backstreet boys e eu sei entender aquilo tudo. Ah, tinha ate umas musiquinhas legais, mas onde estava o sentido de morrer de amores por eles? Pior, o que me deixava ligada era as meninas vestidas com o uniforme da escola. Foi quando percebi que essa diferença talvez se chamasse homosexualidade. “Homo o que? Não pode! Nem, isso e coisa da minha cabeça..”. Não era coisa da minha cabeça, o que senti pela menininha da sétima serie me mostrou isso. E eu quis morrer. Passava tardes e tardes pensando em como eu deveria agir. “Será que todos percebem? Será que ela gosta de mim? Devo contar ou sufocar? Não não, nada de contar, ninguém pode saber disso..jamais. Aiiiii, quero morrer! Talvez me jogue em frente de um carro”. Mudei de escola, agora era uma adolescente plena. Ensino medio, mais de 16 materias pra estudar, pressão pra passar no vestibular e... festas! Sim, de preferência com muita bebida e muitos meninos. Saco ao quadrado. A essa altura eu ja tinha percebido que era lésbica mesmo, só não tinha notado que era tão dolorido ter que disfarçar. Fiquei com alguns meninos, me entreguei a outros…magoei meu corpo, contrariei minha mente e violentei minha alma. Decidi que era hora de parar com o martírio e simplesmente comecei a evitar sair de casa. Era escola-curso-trabalho-casa. Nesse período conheci a Net, sabe? Ai, a Net...a Net foi ótima. Nunca vou esquece-la. A Net me mostrou que existiam outras pessoas como eu e me ensinou que talvez eu pudesse seguir me frente, mesmo sendo diferente.
Mas a Net também foi sacana e me apresentou a meninha de SP. Putz, ai ferrou! Era a meninha de SP o dia todo na cabeça, no ICQ, no telefone…no coração! A meninha aqui, do RJ, so pensava nela. Meus dias de angustias se transformaram em dias de devaneios, planos infundados..ai ai, mas era bom. Bom ate que a meninha de SP pula fora e deixa a carioca aqui na fossa: 3 dias chorando no quarto, o que resultou na preocupação dos meus pais e na conversa seria com minha mãe. Foi quando decidi chutar o balde. Abri o verbo pra minha mãe; lavei a alma. A principio, ela adotou o discurso de que me amava e isso sim era importante e que queria minha felicidade. Mentira! Dias depois colocou em pratica o plano como-fazer-a-vida-da-sua-filha-lésbica-u

m-inferno. Ainda sim, consegui me relacionar com algumas meninas, sendo que com uma delas fiquei por 2 anos e com direito a levar em casa e tudo. Minha mãe ate gostava dela..rs. Hoje, poucos anos depois, me considero uma pessoa bem resolvida. Meus pais, lógico, não queriam que eu fosse assim, mas já caiu a ficha que não mudo, portanto me respeitam. Não tocam no assunto, mas sempre sabem que aquela nova “amiga” e, na verdade, minha namorada. E ficam todos bem, com minha mãe trocando receitas com a “amiga” e tudo. Curioso: ela sempre troca receitas dos meus pratos preferidos..haha.

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